A farmácia é logo ali

22, maio, 2015

Hoje é o Dia Internacional da Biodiversidade e o Brasil, considerado o país da “megadiversidade”, tem o que comemorar: nesta semana foi sancionada a lei que regulamenta o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado.

Essa legislação é uma conquista importante para os povos tradicionais, que passam a ter o direito de participar das decisões sobre conservação e uso sustentável de seus saberes. É importante também valorizar esses conhecimentos: foi a partir deles que a indústria farmacêutica desenvolveu muitos dos remédios que usamos atualmente.

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Coletamos a partir das conversas com as crianças muitas curiosidades das culturas tradicionais brasileiras. A partir da observação da natureza, pajés, benzedores e curadores descobriram remédios naturais para várias enfermidades. Seja nas comunidades quilombolas, seja na aldeia indígena, há uma grande vantagem em morar perto da floresta: a farmácia é logo ali!

Esses saberes vão sendo transmitidos de pai para filho. Em nossas visitas, ao fomentar o diálogo intergeracional e reconstituir laços sociais, buscamos promover o protagonismo infanto-juvenil e a formação de jovens cidadãos críticos e conscientes do valor de sua cultura.

Por meio de um processo participativo, o conhecimento vai sendo tecido através de atividades lúdicas, muita conversa e troca, estimulando  as crianças e jovens dessas comunidades a liderar o processo de levantamento, produção e representação dos aspectos de seu cotidiano.

O povo Huni Kuĩ, da aldeia São Vicente, no Acre, tem uma maneira ótima para espantar desânimo, raiva, preguiça e até panema. Quando alguém está panema, a coisa fica feia. Essa pessoa não consegue caçar, pescar nem arrumar namorado ou namorada.

Para que tudo isso passe, basta pingar sananga nos olhos. Sananga é uma planta que tem uma raiz poderosa: o líquido vira um colírio. A solução faz parte da cultura do sagrado desse povo e é dolorida: vai arder, seus olhos vão ficar vermelhos e até inchar, mas os Huni Kuĩ dizem que espanta até maus espíritos!

A Varluce, da comunidade do Silêncio (Pará), mostrou um banho bom para quando a pessoa está com judiaria de bicho ruim. É só usar as folhas de mucuracaá, que também são boas para diminuir inflamação e ajudam a combater artrite.

É como nos ensinou o seu Waldemar, de Cachoeira Porteira (Pará): “Na floresta, não tem uma folha que não seja remédio”.

O Projeto Tecendo Saberes é uma idealização da artista Marie Ange Bordas, em parceria com o Instituto Catitu, e patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural.