Mondongo: vida sobre a água

9, maio, 2014

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No Norte do Brasil, o que define se é inverno ou verão não é a temperatura mais baixa ou mais alta, mas as chuvas e a consequente cheia do rio. A presença das águas define também o calendário escolar e muitas outras coisas, como por exemplo, os alimentos que se comem. Na comunidade de Mondongo, na região de várzea do município paraense de Óbidos, ao redor do Igarapé Grande, um braço do Rio Amazonas, onde estivemos entre março e abril, os moradores cultivam verduras, legumes, e frutas de ciclo curto. O plantio e a colheita são feitos antes do período da enchente. Abóbora ou jerimum, milho e melancia estão entre os cultivados. Na época das águas, forte mesmo é o peixe. Tanto na comida, como na atividade econômica. Prova disso é que a maioria dos moradores do Mondongo trabalha com pesca e preocupa-se com a procriação dos peixes. Por isso, quando chega a época do defeso, período de proibição de pesca com o objetivo de permitir a reposição e crescimento da população de algumas espécies, os pescadores param de trabalhar. Só voltam quando esse período termina. No inverno, tudo é feito de barco. Não há estradas de terra, apenas caminhos que são percorridos por embarcações dos mais diversos tipos: bote, batelão, canoa, bajara, barco, lancha. Nessa época é bem mais fácil de chegar a Óbidos. No verão, quando é seco, para ir até à cidade-sede usa-se moto, cavalo ou carroça. Quem não tem nenhum, nem outro vai a pé. Aí, são três horas de caminhada,ou seja, cinco vezes mais do que se levaria de motocicleta, que vem sendo cada vez mais usada na região na época da seca. Para quem está se perguntando sobre o nome Mondongo, a Professora Marcinete, dá a explicação. A palavra de origem africana refere-se a locais alagados, com lama. Os primeiros moradores do lugar acharam que tinha tudo a ver com o período das águas e decidiram nomear a comunidade de Mondongo.