Povo indígena Kaxinawá

A segunda viagem do Tecendo Saberes visita o povo indígena Kaxinawá, da Terra Indígena do Rio Humaitá, no Acre.

Os Kaxinawá ocupam a fronteira Brasil-Peru, somando a maior população indígena do Acre, com aproximadamente seis mil pessoas. Pertencem à família linguística Pano e se autodenominam huni-kuin, ‘homens verdadeiros’ ou ‘gente com costumes conhecidos’. Por viverem de forma dispersa e familiarizada com a cultura da exploração de borracha desde a virada do século 20, os Kaxinawá do Acre perderam em duas gerações muito da sua cultura tradicional de aldeia – devido a invasão de suas terras e às expedições armadas do homem branco nestas regiões, que além de massacrar populações através da violência e da contaminação por doenças, introduziram novos costumes.

A terra indígena Kaxinawá do Rio Humaitá é localizada ao norte do Acre, tem 127.383 hectares demarcados onde moram, atualmente, aproximadamente 600 pessoas distribuídas em cinco aldeias. O acesso às aldeias é via transporte fluvial, com barcos de madeira e motor rabeta – para chegar são 2 dias de baixada e 3 dias de subida no rio. A divisão entre os sexos na execução das atividades marca o cotidiano das comunidades mais do que qualquer outra distinção – de seções ou idades. Entre as mulheres é comum a prática na cozinha, tecelagem em algodão, artesanato de cestos e esteiras, pequenos plantios como amendoim, algodão e urucum e colheita de frutos; Já entre os homens cabe à pesca e a caça de animais, além da derrubada para plantio, colheitas e uma pequena produção de borracha.

Segundo o relato do líder Nilson Tuwe, os huni-kuin do Humaitá estão integrados a um movimento ‘pró-cultura’ de aldeia para a retomada da identidade Kaxinawá e ‘pró-direitos’ indígenas, defendendo a terra, a autonomia financeira e o apoio do Estado – sobretudo nas áreas de saúde e educação indígena diferenciada. Já têm professores, agentes de saúde e agentes agro florestais indígenas, assim como artesãos, agricultores e representantes locais que levantam esta bandeira. Esta movimentação teve início entre as décadas de 70 e 80, conhecida como “Tempos de Direitos”, quando os Kaxinawá passaram a lutar pela regularização de suas terras, a livre comercialização da borracha e movimentar as cooperativas indígenas. Nilson Tuwe, que também é realizador, será responsável por filmar as atividades do Tecendo Saberes na Terra Indígena do Rio Humaitá, onde mora.

Hoje os Kaxinawá vivem um intenso processo de resgate das suas tradições. Entre as práticas destaca-se o xamanismo, o uso coletivo da ayahuasca, os rituais de iniciação das crianças e os desenhos geométricos kenê kuin estampados na tecelagem, pinturas corporais e no artesanato – a marca que identifica a cultura material dos Kaxinawá.  A riqueza desta cultura se revela uma miríade de mitos de origem, geralmente ligados a animais que passaram conhecimento de bens culturais aos humanos.

As lideranças locais, por meio de parcerias com ONGS como a CPIACRE  e a Associação de Professores Indígenas, realizam importantes trabalhos de sustentabilidade ambiental, de monitoramento e salvaguarda dos índios isolados da região. Inclusive cederam uma parte do seu território para os índios.

Saiba Mais: Filme Nilson Tuwe