Canto e corpo
11, agosto, 2014
O Tecendo Saberes conversou com Alice Haibara, cientista social que pesquisa práticas de canto e modos de saber indígenas, entre os índios Huni Kuin (Kaxinawá). Sua pesquisa busca analisar as relações entre o corpo e o “aprender a cantar”, e também as relações entre a agência dos cantos e os modos próprios de aprendizado entre os Huni Kuin.
Os cantos são uma parte importante do cotidiano do povo Huni Kuin, que vive no Acre e Peru. Segundo Alice, “eles têm cantos para tudo ou quase tudo”. Canta-se para acolher quem chega, para estimular o aprendizado, a proteção espiritual, para evocar seres como a jiboia, figura importante entre os mitos Huni Kuin. Para esse povo, também conhecido como Kaxinawá, os cantos têm outra linguagem, a linguagem dos antigos, dos mortos, dos espíritos, e são a forma de comunicação e conexão com eles”, explica Alice.
A boa recepção e acolhida de quem chega a uma aldeia Huni Kuin também se dá por meio dos cantos. “Em algumas ocasiões, quando uma pessoa de fora chega, eles fazem alguns cantos e danças do katxanawa, também traduzido como mariri, uma pequena festa de recepção com cantos e danças. Eles recebem com bastante festa”, explica a pesquisadora. Ela destaca que o “katxa” está relacionado a conectar-se com a alegria. Por isso, quando há algo triste na comunidade, os índios Huni Kuin também fazem um pequeno katxa. Os cantos do katxanawa também são práticas importantes no período de plantio. Nessa época, há uma festa em que vários deles são entoados para garantir que as sementes se desenvolvam e as plantas cresçam bem.